Capítulo 5
- Tati Belisário

- 9 de mai.
- 4 min de leitura
Um verão Chamado Impulso
Foi num dos encontros com a minha terapeuta que ouvi algo que me marcou: "Você precisa parar. Precisa tirar férias, sair do ciclo. Conectar-se com o que a vida tem de bom, e não apenas com o que te pesa."
Não pensei duas vezes. Liguei para uma amiga e sugeri uma viagem. Precisava sair, respirar, encontrar alguma luz fora daquele casulo de ansiedade e esgotamento. Procurámos destinos, e não me lembro ao certo como ou porquê, mas o nome Morro de São Paulo, na Bahia, brilhou como uma promessa.
Aceitei esse chamado do acaso. E foi assim que, quase sem perceber, embarquei para uma viagem que acabaria por mudar a minha vida para sempre.
Voamos até Salvador e de lá seguimos num catamarã até à ilha. Foram duas horas de mar aberto, vento no rosto e aquela sensação de que algo novo se aproximava. Lembro-me de quando avistei o forte na entrada da ilha, logo ao lado do grande portal. Aquilo parecia mais um cenário de sonho do que um destino real.
Ao desembarcarmos, fomos abordadas por homens com carrinhos de mão que se ofereciam para levar as nossas bagagens até ao hotel. Aquilo pareceu-me insólito e encantador ao mesmo tempo. Aceitamos. E pouco depois estávamos no nosso hotel.
Fiquei deslumbrada. As praias tinham uma beleza quase irreal. As pessoas sorriam com o olhar. Tudo parecia leve, calmo, gentil. Era como se, pela primeira vez em muito tempo, eu sentisse o corpo e a mente a respirarem juntas. Olhei para a minha amiga e disse, com aquela honestidade impulsiva que me define:
— Eu quero muito morar aqui.
Ela riu alto, achando graça à minha empolgação. — Estás doida.
— Pode ser. Mas nunca me senti tão viva num lugar.
Naquele exato momento, a minha necessidade de reencontro com a paz misturava-se com a intensidade típica de quem sente demais. E ali estava eu — vulnerável e inteira, tudo ao mesmo tempo.
Numa das noites, durante um luau na praia principal, conheci um rapaz de São Paulo. Ele era carismático, sedutor, falador. Bastaram algumas horas de conversa para que eu sentisse aquela velha sensação de conexão imediata. Apaixonei-me. Ou achei que sim. Com o TPB, muitas vezes amamos assim: intensamente, como se fosse para sempre — até que não seja.
Ficamos juntos por cinco dias. Vivemos aqueles momentos como se o tempo fosse só nosso. No dia da despedida, ele convidou-me a voltar no mês seguinte, para o Festival de Verão. Disse que podia ficar na casa dele. Disse tudo o que eu queria ouvir.
Voltei para Belo Horizonte com a mente já na ilha. A loja ia bem, e a minha funcionária era competente e de confiança. Podia viajar sem culpa. E assim fiz: comprei passagens, combinei tudo com ele e convidei uma amiga para ir comigo.
Regressamos à ilha semanas depois. Ele recebeu-nos bem. A casa onde ficámos era próxima da vila, longe das temidas escadarias — uma bênção naquele calor baiano.
Começamos a fazer amigos locais, a integrar-nos na pequena comunidade de Morro. Uma fotógrafa me convidou para um ensaio com acessórios de um artesão da ilha. Aceitei de imediato. No final, o artesão ofereceu-me um colar e uma tornozeleira como agradecimento. Pequenos gestos que aqueceram o coração.
Uma noite, enquanto conversávamos, perguntei ao paulista sobre casas para alugar por temporada. Ele disse que podia ajudar. Eu não hesitei — a ideia de passar o verão inteiro ali parecia um sonho.
Voltei a BH com um novo plano em mente. Ele disse que encontrou uma casa na Mangaba, com dois quartos, sala, cozinha, e que estava disponível para três meses de aluguel. Perguntei onde ficava, e ele, entre risos, respondeu: — No final da escadaria principal. 182 degraus. Quase desisti. Mas... a impulsividade falou mais alto. Aceitamos.
Alugamos a casa e marcamos a ida para 31 de dezembro. Eu queria ver o novo ano nascer naquela ilha que agora parecia ter tatuado algo em mim. Mas, claro, nem tudo podia correr bem.
Descobri que o paulista — aquele por quem eu havia sentido tudo em tão pouco tempo — estava envolvido com outra mulher. E pior: recordei que lhe havia oferecido um celular novo, num gesto de afeto puro. A raiva queimava. “Como fui tão ingênua?”, pensei. A resposta era simples: não era ingenuidade, era intensidade. Era borderline. Era querer pertencer, ser escolhida, ser vista.
Cortamos contato. Mas eu sabia que o reencontro na ilha era inevitável.
Trabalhei como uma louca durante o Natal. A loja vendia bem, e isso deu-me alguma tranquilidade para desaparecer do mapa durante o verão.
Casa alugada, passagens compradas, planos feitos. Ainda convidei alguns amigos para passar a virada do ano conosco. Eles toparam — iriam de carro.
E assim chegou o dia 31 de dezembro. Eu, a minha schnauzer e a minha amiga embarcamos com o coração leve e a bagagem cheia de expectativas.
Mal sabíamos que aquele seria o verão mais maluco, mais intenso e mais transformador das nossas vidas.
Gratidão














































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